29 outubro 2012

Concreto & Vidro

Gosto de espairecer,
Ir ao centro e perambular
Pra sentir o cheiro do lixo jogado nas ruas
E dos trapos dos mendigos
Que mal me percebem –
A não ser pelo trocadinho que,
Para eles, sai de qualquer bolso
Que cruze seus caminhos

Observar os rapazes e as meninas
Que saem dos prédios cheios de escritórios:
Marmanjos com seus óculos escuros
Pendurados no topo de suas cabeças sem sonhos
E garotas com caras cansadas em seus vestidos que
Não lhes cabem mais e
As moscas que circulam seus corpos
Como às almas de qualquer outro

Os prédios que não se constroem mais
Com imaginação,
Apenas toneladas de concreto e vidro
Aglomerados para dar forma a espaços
Trancados em que caibam
O máximo de vidas sem graça possível

As ruas e os carros, abarrotados
As árvores e a água, paradas
A gente e a cerveja, mornas
Jogados ali aqui e acolá
Sem cor, sem dor trabalhada,
Sem graça

Zé Daniel

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